quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Ah ... férias!

Estarei de férias nas próximas 3 semanas, de modo que não haverá novas postagens no blog durante este período. Prometo, porém, muitas publicações interessantes no meu retorno, sempre com assuntos relacionados às artes, às viagens e ao amor!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Deux Arabesques: música traduzindo a natureza

Deux arabesques (dois arabescos) é conjunto de 2 peças compostas pelo francês Claude Debussy, entre os anos de 1888 e 1891, sendo um dos seus trabalhos mais precoces, quando ele tinha cerca de 20 anos. Apesar disso, as arabesques contém dicas do estilo musical que ele viria a seguir. O conjunto pode ser classificado como música impressionista, acompanhando o impressionismo das artes visuais, pois parece evocar impressões da natureza.
A arabesque no.1, em Mi maior, como muitas obras impressionistas, abre com um arpeggio que sugere um fluxo de água, leve, transparente.
A arabesque no. 2, em Sol maior, é mais rápida e enérgica, abrindo com rápidas trinados que podem sugerir algo que treme ... para mim é como fosse batidas de asas de beija-flores (ou borboletas, libélulas), que ora seguem um trajeto sinuoso, planando com as asas abertas, ora as bate rápido, suspendo-se no ar.


Como seu precursor na arte visual, o impressionismo musical foca-se na sugestão e na atmosfera, e não em provocar emoções fortes ou contar uma história. Esse estilo ocorreu (também como nas artes visuais) como uma reação aos excessos da Era Romântica. Enquanto esta última era caracterizada pelo uso dramático das escalas maiores e menores, a música impressionista tende a fazer mais uso da dissonância e de escalas pentatônicas. Os românticos, como Beethoven e Tchaikowsky, usavam formas mais longas como sinfonias e concertos, enquanto que os impressionistas favoreciam formas mais curtas como noturnos, arabescos e prelúdios.

Além do impressionismo, estas peças também me remetem à Art Nouveau, pois também são contemporâneas a esta manifestação. Consigo perfeitamente imaginar um contexto em que a fluidez e leveza das mulheres do ícone do estilo - Alphonse Mucha (vide imagens)-, com seus cabelos esvoaçantes, em ondulações, com tudo muito redondamente ornamentado, têm como pano de fundo a música de Debussy, principalmente as Deux Arabesques.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Baladas do Rock: Still Loving You

"Still Loving You" é uma intensa power ballad e a canção mais famosa da banda alemã Scorpions (que anunciou recentemente o fim de carreira na turnê do último album, que será lançado este ano). A canção de que falo pertence ao álbum Love at First Sting, de 1984. É conhecida no mundo inteiro, sendo um clássico do gênero. Foi composta pelo guitarrista da banda Rudolf Schenker, que caiu perfeitamente no timbre inesquecível e na interpretação perfeita do vocalista Klaus Meine (o qual compôs a letra). A música conta sobre o sofrimento de um homem arrependido que quer reconstruir a relação com a amada, e num crescendo, culmina com a declaração : "I´m still loving you" (eu ainda estou te amando).

Uma outra interpretação para a letra seria de que a mesma representa uma metáfora para a ainda dividida Alemanha (Oriental e Ocidental) daquela época (a queda do muro de Berlim foi em 1989). A letra diz: " seu orgulho construiu um muro tão forte que não consigo atravessá-lo, será que não há chance de recomeçar?" " apenas o amor pode derrubar estes muros um dia" e " sim, feri seu orgulho e sei pelo que passou, você deve me dar uma chance, isto não pode ser o fim, ainda estou te amando"... parecem ser claras referências ao muro de Berlim e o desespero que muitos alemães sentiam sobre a divisão da sua terra natal. Gostei desta idéia também.

Em 2000, a banda fez uma gravação da música com a Orquestra Filarmônica de Berlim (para o álbum Moment of Glory) e uma versão acústica para o álbum Acoustica em 2001. São versões ótimas, mas prefiro a original, com suas guitarras poderosas.


Time, it needs time, to win back your love again, I will be there, I will be there Love, only love, can bring back your love someday I will be there, I will be there
I'll fight, babe, I'll fight, to win back your love again I will be there, I will be there
Love, only love, can break down the wall someday I will be there, I will be there
If we'd go again all the way from the start
I would try to change the things that killed our love
Your pride has built a wall so strong that I can't get through
Is there really no chance to start once again, I'm loving you
Try, baby try, to trust in my love again I will be there, I will be there
Love, our love, just shouldn't be thrown away I will be there, I will be there
If we'd go again all the way from the start
I would try to change the things that killed our love
Yes, I've hurt your pride, and I know what you've been through
You should give me a chance, this can't be the end
I'm still loving you (3x)I need your love I'm still loving you (I'm still loving you baby)

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

As interfaces do Carnaval

Carnaval é um período de festas regidos pelo ano lunar, criado pelo Cristianismo da Idade média (adeus à carne - ou carne levarium-, donde vem a palavra).

Porém, como sabe-se, esta festa já era realizada na Antiguidade; provavelmente originário dos ritos de fertilidade da primavera pagã que já eram comemorados desde os povos celtas. Isso para os povos antigos (no continente europeu) era um evento importantíssimo, pois permitia celebrar o renascimento da natureza após o inverno. Para eles era uma enorme alegria ver que, depois da aridez do inverno, a vida voltava a aparecer . Aparentemente, o primeiro carnaval de que se tem registro ocorreu no Egito, com a festividade de Osíris, evento que marca o recúo das águas do Nilo. Na Grécia e na Roma Antiga também eram conhecidas festividades para o culto de Dionísio ou Baco (deus do vinho), onde todo o povo, de qualquer classe social, comemorava com música, muita comida, vinho e orgias. Muitos dizem que a instituição do carnaval foi uma maneira que a Igreja Católica encontrou de controlar os exageros cometidos por gregos e romanos, que ficariam então restritos a esta época do ano. A partir do século XI, ela instituiu a Semana Santa, que seria antecedida por 40 dias de jejum (a quaresma); então antes deste longo período, estariam livres para cometer seus exageros. Em vários países, o carnaval também é chamado de "terça-feira gorda" (mardi gras, em francês), uma alusão à liberdade de se pode comer e beber à vontade, em um crescendo que teria o auge neste dia.

Desta forma, há uma grande quantidade de festejos populares, cada cidade brincando ao seu modo. O carnaval moderno, com desfiles e fantasias, surgiu na sociedade vitoriana do século XIX, sendo Paris o principal modelo exportador da festa para o mundo. Cidades como Nice, New Orleans, Rio de Janeiro e Toronto se inspiraram no carnaval parisiense para organizar as suas festas. Outra festa que parece ser muito charmosa é o carnaval de Veneza, o qual tem seu primeiro registro em 1268, sendo caracterizado pelo uso das máscaras. O objetivo do uso de máscaras é que com ela a nobreza saía às ruas e se misturava com o povo. Hoje em dia esta festa dura 10 dias, com bailes em salões e desfiles pela cidade. Além das máscaras, utilizam trajes típicos do século XVIII. Se quiser saber mais sobre esta festa, há um artigo interessante neste site de viagens: www.janelanaweb.com/viagens/veneza.html.
Sinceramente, não sou muito do carnaval em si. Gostaria de um dia talvez participar deste de Veneza. Mas não vejo a necessidade de uma época específica para extravagar ou desestressar. Isto talvez porque me permita com frequência momentos de lazer e descanso, não fico apenas no trabalho do dia-a-dia. Para falar a verdade, penso ser um pouco de exagero isto tudo. Acho bonita, porém, a arte que é feita, as fantasias, as marchinhas; a alegria que as pessoas assumem nesta época. Gostaria que esta alegria que contagia tantos no carnaval pudesse ocorrer também em outros momentos.
As primeiras 4 imagens são do Carnaval de Veneza; a última é do Carnaval em New Orleans.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

200 anos do nascimento de Frédéric Chopin em 2010: Estudo Revolucionário

O estudo opus 10 no. 12 de Chopin, também conhecido como estudo Revolucionário, é uma das obras mais famosas para piano solo,composta por volta de 1831. Faz parte da série dos 12 Grandes Estudos que o compositor fez dedicados ao seu amigo compositor Franz Liszt. Este estudo levou esse nome pois parece ter sido inspirado pelo sofrimento que teve pela queda da Polônia, sua amada terra natal, numa insurreição revolucionária contra a Rússia (segundo relatos, ele manifestava imensa dor por esta derrota), no mesmo ano.

Trata-se de uma peça muito difícil, que mesmo sendo usualmente apresentada em concertos, também destina-se ao estudo da técnica, da velocidade, sendo uma importante obra no aprendizado do piano. Aqui a velocidade é dada com uma escala harmônica feita com a mão esquerda, e a melodia com a direita. Toda esta velocidade imposta com a mão esquerda começa com rompantes em notas mais agudas que parecem escorregar para o lado grave do piano, sendo mesmo uma metáfora para a queda da Polônia ... ouvindo a música temos a sensação mesmo de algo que cai, que vai por terra como uma energia acumulada que se desfaz...

Vista de Krakóvia de Ulica Nowy Swiat, Varsóvia, 1778 - Bernardo Bellotto
Frederic Chopin compondo seu estudo em Dó Menor - Norman Price

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Show de Beyoncé em Florianópolis: uma diva

Ontem, dia 04 de fevereiro de 2010, eu e mais cerca de 25 mil pessoas assistimos ao 1o. show no Brasil da cantora americana Beyoncé. Ignorando o fato da ilha não ter infra-estrutura para este tipo de evento (devido ao sistema viário), o show foi espetacular.
Ocorreu no Parque Planeta, onde são realizadas as edições anuais do festival de música Planeta Atlântida. Também não achei um bom local, pois muita gente ficou longe do palco; o ideal seria mesmo um estádio, mas as agendas dos mesmos estão lotadas com os campeonatos estaduais de futebol. Eu fiquei na pista VIP, que era mais próxima ao palco, então pude vê-la mais de perto.

Comecei a conhecer o trabalho dela na época do CD Dangerously in Love (2003), porém tinha um pouco de resistência a escutar o seu trabalho, pois gostava muito de Mariah Carey e parecia que a nova cantora estava ocupando seu lugar. Mas assiti o videoclipe de Baby Boy e me impressionei muito. Achei a música muito sensual, e o jeito que ela dançava, espetacular. A canção utilizava perfeitamente a sensualidade sem ser vulgar. Quando eu escutava a música só pensava em dançar como ela, em deixar a sensualidade aflorar- um poder que muitas mulheres têm e nem sabem. Na época pensei : meu deus, esta moça vai longe, o sucesso dela será muito maior do que é agora. E dito e feito. A mulher é uma DIVA. Além de linda, é muito talentosa, tem um vozeirão e muita sensualidade ao dançar, além do seu carisma. Nasceu para isso. No telão, durante o show, apareciam imagens dela quando criança, mostrando que já gostava de cantar e dançar. Fico feliz que este talento que ela já apresentava pôde ser desenvolvido; com certeza devem ter havido pessoas que acreditaram no seu potencial e lhe ajudaram, trilhando o caminho desta conquista. Falo disto (talentos) em um post antigo meu: http://moradadevenus.blogspot.com/2009/07/um-presente-de-deus.html . Fico sempre imaginando quantas pessoas poderiam chegar à perfeição que ela conquistou, mas não tiveram estímulos ou fizeram escolhas erradas.

Bom, os últimos sucessos dela não trazem apenas esta conotação sensual como no primeiro CD, mas também letras que traduzem e acolhem os sentimentos femininos, principalmente em relação aos relacionamentos afetivos, levantando auto-estima das mulheres. A letra de Irreplaceable fala de uma mulher que coloca o namorado para fora de casa após uma traição, deixando o rapaz literalmente "com uma mão na frente e outra atrás", pois tudo o que ele possuía foi ela que comprou (e não é que vemos isso por aí: a mulherada bancando os homens?...). Já na letra de If I were a boy, a cantora se coloca no lugar dos homens para mostrar como se comportam em relação às suas esposas ou namoradas: se uma amiga de trabalho "dá em cima" dele e ele" dá trela", é a namorada que é ciumenta; se vai a um happy hour com os amigos, não avisa e ainda desliga o celular; faz tudo do jeito dele pois é muito autoconfiante e sabe que ela vai ser fiel. Não é à toa que Beyoncé tem uma legião de fãs que vai desde adolescentes, principalmente, mas também mulheres mais velhas. Em Single Ladies, ela convida as solteiras à dançar e esnobar seus ex-pretendentes: " se você está gostando, então deveria ter posto um anel aqui (no meu dedo)".

Trechinho de Halo em Floripa pelo YouTube.
O show terminou com a belíssima Halo, num momento muito emocionante em que Beyoncé faz uma homenagem a Michael Jackson. A letra desta música é linda, fala de uma pessoa que está amando de verdade, sem amarras, pois consegue ver e sentir a aura (halo) daquele que ama. E não é assim, quando amamos alguém, seja nosso marido, seja Deus, pai, mãe, irmão, amigo, um ídolo que seja? Parece que por amá-los conseguimos nos conectar com a sua essência, enxergando esta pessoa com as suas qualidades e seus efeitos. Mas isso também depende de estarmos abertos para enxergar esta aura (ou auréola), a luz desta pessoa que nos conforta, mas que também nos deixa vulnerável pois a podemos perder. E neste clima ela agredece a Michael o que ele fez pela música pop. Foi muito tocante.
Gostaria de deixar a letra de Halo traduzida:
Remember those walls I built?
Lembra-se daquelas paredes que ergui?
Well baby they´re tumbling down
Bem amor ela estão desmoronando
And they didn´t even put up a fight
Elas nem resistiram à queda
They didn´t even make a sound
Elas nem fizeram barulho
I found a way to let you in
Eu encontrei um modo de deixar você entrar
But I´ve never really had a doubt
Mas eu na verdade nunca tive dúvida
Standing in the light of your halo
Em frente à luz da sua auréola
I got my angel now
Eu agora tenho o meu anjo

It´s like I´ve been awakened
É como se eu tivesse sido despertada
Every rule I had you breaking
Cada regra você quebrou
It´s the risk that I´m taking
É o risco que estou correndo
I´m never gonna shut you out
Eu nunca vou te deixar de lado
Everywhere i´m looking now, I´m surrounded by your embrace
Todo o lugar que olho agora, estou rodeada pelo seu abraço
Baby I can see your Halo, you know you´re my saving grace
Amor posso ver a sua auréola, você sabe que é a minha graça salvadora
You´re everything I need and more, it´s written all over your face
Você é tudo que preciso e mais, está escrito por todo o seu rosto
Baby I can feel your Halo, pray it won´t fade away
amor posso sentir a sua auréola, rezo para que não desapareça.
Can see your Halo (4x)
Hit me like a ray of sun
Me atingiu como um raio de sol
Burning through my darkest night
Queimando através da minha noite mais escura
You´re the only one that I want
Você é o único que eu desejo
Think I´m addicted to your light
Penso que estou viciada na sua luz
I swore I´d never fall again
Jurei que não me apaixonaria (cair em amor) de novo
But this don´t even feel like falling
Mas isso nem parece uma queda
Gravity can´t forget
A gravidade não pode esquecer
To put me back to the ground again
De colocar-me no chão novamente

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Vinho: a alma da terra


Recentemente olhando fotografias de paisagens toscanas (Tuscany Country- Wes Walker), me deparei com uma linda frase sobre o vinho: " wine is a look into the heart of a place" (Karen Macneil). Literalmente, vinho é um olhar dentro do coração de um lugar. Não é poético?
Há alguns anos, meu marido e eu temos nos aprofundado mais no assunto, apurando nosso olfato e paladar, desvendando os mistérios desta arte a cada nova garrafa. Gostei muito da frase, pois sabemos que apesar da espécie de uva utilizada ser a mesma, por exemplo, uma cabernet sauvignon, o sabor do vinho vai ser muito influenciado pelo terroir. Ora, terroir significa originalmente uma extensão limitada de terra considerada do ponto de vista de suas aptidões agrícolas (particularmente à produção vitícola). Logo, um cabernet sauvignon vindo de Bordeaux (França) ou Mendoza (Argentina) serão diferentes, terão suas características próprias, sua alma própria. Desta forma, entrando no espírito da frase, é como se você estivesse bebendo o sangue daquela terra, a alma, a essência do lugar. É o homem, com toda a sua habilidade e conhecimento, extraindo de determinada região o âmago da terra, aquilo que a faz ser especial. Os antigos tinham esta percepção, como podemos ver pela citação do cientista romano Plínio (24-79) "O vinho é o sangue da terra."

Os deixo com mais citações e belas imagens relativas ao vinho.
"O vinho é a expressão da natureza que o homem interpreta aprimorando seus sentidos e sentimentos" Monica Rossete (Enóloga)


"No vinho estão a verdade, a vida e a morte. No vinho estão a aurora e o crepúsculo, a juventude e a transitoriedade. No vinho está o movimento pendular do tempo. No vinho se espelha a vida"
Roland Betsch


"Os vinhos são como os homens: com o tempo, os maus azedam e os bons apuram"
Cicero
"O vinho dá força ao coração. Dá calor ao rosto. Tira a melancolia. Alivia o caminho. Dá coragem ao mais covarde. Faz esquecer todods os pesares"
Espiñel

"A penicilina cura os homens, mas é o vinho que os torna felizes "
Flemming

"O vinho é prova constante de que Deus nos ama e nos deseja ver felizes"
Benjamin Franklin


"O vinho é composto de humor líquido e luz." Galileu Galilei

"O Conhecimento e a educação sensorial apurada podem obter do vinho prazeres infinitos." Ernest Hemingway

Imagens: Aproximando do Paraíso - Brooks Anderson; Brisa do Anoitecer - Max Hayslette; Sombras dos Vinhedos - David Shot; Cafe de France - Ronald Lewis; Dois cálices de vinho num jardim de primavera - Christine Gillé (fotografia); Seleção de vinhos tintos - Louise Montillio ;
**Se beber não dirija!**

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

"O mio babbino caro", Maria Callas e Florença




O vídeo que estou postando hoje é da ária O mio babbino caro, da ópera Gianni Schicchi (1918) de Giaccomo Puccini, interpretada pela lendária soprano Maria Callas. Estou estudando (e "apanhando" ...) a obra em minhas aulas de canto lírico.

Tenho assistido muitas performances no youtube para me inspirar, mas gostei muito desta. Neste concerto, Maria Callas já está mais velha (ocorreu em 1973, 4 anos antes de sua morte) e com a voz danificada, de modo que encontrei muitas críticas pela falta de técnica na execução da obra.

A minha escolha foi baseada na dramaticidade, na emoção que esta interpretação me causa. Aprendi que ao cantar devemos colocar muito sentimento, devemos puxar lá de dentro da gente, colocar todo o coração para tocar aquele que escuta. Acho que foi isto que fez dela uma artista tão idolatrada, pois além do talento para o rápido aprendizado e versatilidade, ela era uma ótima atriz.

A ópera Gianni Schichi é única ópera cômica que compôs Puccini, com libretto de Forzano, baseado no canto XXX do Inferno, da Divina Comédia de Dante, em ato único. A ária O mio babbino caro é muito conhecida, já tendo sido interpretada por várias sopranos famosas. Na ária de que falo, a personagem Lauretta, preocupada que uma briga entre a sua família e a de Rinuccio, seu amado, possa influenciar a relação dos dois, diz ao pai que deseja casar-se, e que caso não consiga realizar sua vontade, vai cometer suicídio.

É interessante quando uma obra da música cita nomes de lugares, nos transportando para o cenário em que ocorre. É o caso aqui. A letra da música cita a belíssima Ponte Vecchio (ponte velha) de Florença, na Itália, de onde a moça diz que vai se jogar para morrer no rio Arno. Esta ponte em arcos medievais é famosa por abrigar uma grande quantidade de lojas (principalmente ourivesarias e joalherias). Acredita-se que existe desde a Roma antiga, quando era de madeira, mas foi destruída inúmeras vezes com as frequentes inundações do Arno. Em 1345 foi definitivamente reconstruída. Na segunda guerra mundial a ponte foi poupada. Ao longo dela há vários cadeados, devido a um ritual de namorados: ao trancar o cadeado e jogar a chave ao rio, os amantes estariam eternamente ligados. Isso levou a um acúmulo absurdo de cadeados, que tinham que ser removidos com frequência, de forma que o município estipulou uma multa de 50 euros para quem fosse pego em flagrante colocando cadeados.

Apesar do tom de ironia e hipocrisia em que a ária está inserida, como peça avulsa ela me remete à sensação de drama, em que o auge da fala, quando Lauretta ameaça suicidar-se (do 0:44 ao 1:02 no video), é também a parte melódica e harmônica mais bela da peça, pensada com perfeição por este gênio da ópera Giacomo Puccini.

O mio babbino caro
ó meu papai querido
Mi piace è bello, bello
Eu gosto dele, ele é lindo
Vo´ andar in Porta Rossa
Irei a rua Porta Rossa
A comperar l´anello
Para comprar o anel de casamento
Sì, sì, ci voglio andare
Sim, sim, eu quero ir
E se l´amassi indarno
E se amá-lo fosse em vão
Andrei sul Ponte Vecchio
Iria ao Ponte Vecchio
Ma per buttarmi in Arno
Mas para me jogar no (rio) Arno
Mi struggo e mi tormento
Eu me torturo e me atormento
O Dio vorrei morir!
Ó Deus, queria morrer!
Babbo pietà, pietà (2x)
Pai tenha piedade, piedade.

Imagens no post: Ponte Vecchio - Lancelot Theodore Turpin de Crissé -; Ponte Vecchio e Rio Arno, Florença- Toscana-Italia - fotografia de Steve Vidler.