Há pouco tempo virei a casa dos trinta e é interessante como a mudança mexe com a gente. A beleza fresca já não é mais a mesma dos 18, obviamente, mas o conhecimento que tenho adquirido sobre mesma mim não tem preço. Estou mais decidida, e posso com mais clareza estabelecer as minhas prioridades, não perdendo tempo com bobagens. Observando estas mudanças em mim e também nas mulheres que atendo como médica da família, posso concluir que o sexo feminino está sofrendo de uma crise de identidade. Pros psiquiatras e pra indústria de anti-depressivos isso é bom, no entanto, são os únicos a lucrar com isso. A sociedade é que perde. Me explico. A conquista do mercado de trabalho pela mulher e sua consequente independência financeira é um marco histórico e de grande valor, não há como negar, agradecemos àquelas que abriram este caminho. Mas onde está o espaço para a mulher namorada/esposa, dona de casa, mãe, mulher prendada, etc etc? Às vezes a mulher mergulha de tal forma numa rotina frenética de trabalhar e trabalhar, que o seu casamento não dura, que ela delega a educação de seus filhos a terceiros cujas consequências já conhecemos, sua casa está de pernas pro ar, não aprende coisas novas, sua saúde em frangalhos, não tem tempo para se cuidar. Isso quando ela consegue constituir uma família, pois muitas vezes vai vendo o tempo passar , envelhecendo e ficando cada vez mais sozinha.
Achei ótima uma propraganda nova do Boticário, que promove o seu produto justamente parabenizando a mulher por suas conquistas, mas chamando a atenção para ela resgatar um pouco do seu tempo para se cuidar.
Numa visão utópica de reforma na sociedade, para mim, as pessoas deveriam trabalhar menos horas por dia (deveriam haver bons salários com carga horária menor!), assim haveria emprego para todos e muito menos gente estressada, podendo se dedicar aos outros papéis de sua vida que não apenas o de ser um (a) workaholic. No entanto sabemos que isso não é possível.
Quando estudamos um pouco de mitologia, vemos o quanto alguns atributos tipicamente femininos vem se perdendo e se modificando com o passar do tempo. Abaixo listei as mais famosas deusas da mitologia grega com uma pequena descrição de cada. Acho que se harmonizássemos dentro da gente um pouco de cada uma delas, nós e toda sociedade teríamos muito a se beneficiar...
Hera
É a deusa da fecundidade e da dedicação, para conservar e fortalecer toda a obra criada, esposa de Zeus, o maior deus do Olimpo. De nada adianta o esforço da criação (Zeus) se não houver proteção e dedicação à obra, para que ela " vingue". Ela representa a " mãe" de verdade, pois sabemos que para ser mãe não basta colocar um filho no mundo. Hoje em dia isto não parece ter muita importância, pois as mães delegam este cuidado para a creche ou babás.
Ártemis
É a deusa da natureza, dos animais, da lua, que governa os ciclos de fecundidade. O que ela transmite está praticamente esquecido por nossa sociedade, que é a proteção ao sagrado da natureza, ao respeito por ela. Fugimos do contato da natureza, vivemos enjaulados em selvas de pedra. Também abandonamos o respeito por nossos ciclos, pelo funcionamento da nossa saúde física e mental. Hoje em dia ninguém sabe mais sobre o seu corpo, como funciona, como ele reage a determinadas circunstâncias. Falta tempo para meditação e auto-observação. Qualquer coisa diferente que sinta a pessoa já vai no médico e quer um diagnóstico, ou vai numa farmácia e resolve tudo com um comprimido. Fácil.
Atenas
É a deusa filha de Zeus (a força criadora) e Métis (prudência), indicando uma bela metáfora - quando a criação e a prudência se unem, nasce a sabedoria (ou seja, Atenas). Ela é a protetora da verdade e da justiça. Um dos seus símbolos é a oliveira, árvore que tem capacidade de frutificar mesmo em solos áridos. Isto mostra na antiguidade o reconhecimento da mulher como fonte do saber. Infelizmente a modernidade confundiu os atributos de Atena masculinizando-a, pois não se trata do saber racional e lógico, típico do pensamento masculino. É o saber pela intuição, pela inteligência emocional, pela diplomacia, pela flexibilidade, pelo poder de abstração. Com o tempo vamos desaprendendo estes dons que nos eram praticamente inatos .
Afrodite
Já falei bastante desta deusa por aqui, mas agora vou frizar apenas o aspecto de amor sexual, que está banalizado nos nossos dias. As mulheres não tem mais tempo de se envolverem de verdade, pois não estão abertas para o amor. Por issso a queixa de estarem sempre sozinhas. Aquelas que já tem um amor muitas vezes não têm tempo de se dedicar a ele, relacham no autocuidado, provocando um desinteresse do companheiro, o que é natural. Garanto que muitas prefeririam ter um tempo maior para se arrumar, para se cuidar e estar sempre bela para o seu amor, ao invés de ficar ganhando rugas horas e horas num trabalho estressante. Infelizmente a sociedade está organizada para que só aquelas que nasceram em berço de ouro possam se dedicar a isso.
Héstia
É a deusa protetora do lar, é o fogo sagrado que está no interior de toda a casa e no íntimo de cada ser. Na mitologia romana era chamada de Vesta, de onde surgiu a palavra vestíbulo, que significa " local para o resguardo". Coisa sem ssignificado nos dias de hoje, pois não respeitamos mais a nossa privacidade. Hoje em dia muitas pessoas não conseguem ficar sozinhas consigo mesmas, e muitas vezes fazem o máximo para ficar fora de casa, pois não sabem o que fazer dentro dela. Na antigüidade não era assim. Héstia era representada pela lareira acesa no centro da casa, unindo todos que ali moram (hoje em dia substituída pela televisão...). Resgatar esta deusa dentro da mulher significa então o direito de respeitar-se como ela realmente é, e também significa deixar acesa a " chama do lar", ser aquela que faz de tudo para dar ao lar o verdadeiro sentido, que é o de um local para sermos nós mesmos.
Obras de arte neste post:
* L´odalisque - Jean-Auguste Dominique IngresAchei ótima uma propraganda nova do Boticário, que promove o seu produto justamente parabenizando a mulher por suas conquistas, mas chamando a atenção para ela resgatar um pouco do seu tempo para se cuidar.
Numa visão utópica de reforma na sociedade, para mim, as pessoas deveriam trabalhar menos horas por dia (deveriam haver bons salários com carga horária menor!), assim haveria emprego para todos e muito menos gente estressada, podendo se dedicar aos outros papéis de sua vida que não apenas o de ser um (a) workaholic. No entanto sabemos que isso não é possível.
Quando estudamos um pouco de mitologia, vemos o quanto alguns atributos tipicamente femininos vem se perdendo e se modificando com o passar do tempo. Abaixo listei as mais famosas deusas da mitologia grega com uma pequena descrição de cada. Acho que se harmonizássemos dentro da gente um pouco de cada uma delas, nós e toda sociedade teríamos muito a se beneficiar...
Hera
É a deusa da fecundidade e da dedicação, para conservar e fortalecer toda a obra criada, esposa de Zeus, o maior deus do Olimpo. De nada adianta o esforço da criação (Zeus) se não houver proteção e dedicação à obra, para que ela " vingue". Ela representa a " mãe" de verdade, pois sabemos que para ser mãe não basta colocar um filho no mundo. Hoje em dia isto não parece ter muita importância, pois as mães delegam este cuidado para a creche ou babás.
Ártemis
É a deusa da natureza, dos animais, da lua, que governa os ciclos de fecundidade. O que ela transmite está praticamente esquecido por nossa sociedade, que é a proteção ao sagrado da natureza, ao respeito por ela. Fugimos do contato da natureza, vivemos enjaulados em selvas de pedra. Também abandonamos o respeito por nossos ciclos, pelo funcionamento da nossa saúde física e mental. Hoje em dia ninguém sabe mais sobre o seu corpo, como funciona, como ele reage a determinadas circunstâncias. Falta tempo para meditação e auto-observação. Qualquer coisa diferente que sinta a pessoa já vai no médico e quer um diagnóstico, ou vai numa farmácia e resolve tudo com um comprimido. Fácil.
Atenas
É a deusa filha de Zeus (a força criadora) e Métis (prudência), indicando uma bela metáfora - quando a criação e a prudência se unem, nasce a sabedoria (ou seja, Atenas). Ela é a protetora da verdade e da justiça. Um dos seus símbolos é a oliveira, árvore que tem capacidade de frutificar mesmo em solos áridos. Isto mostra na antiguidade o reconhecimento da mulher como fonte do saber. Infelizmente a modernidade confundiu os atributos de Atena masculinizando-a, pois não se trata do saber racional e lógico, típico do pensamento masculino. É o saber pela intuição, pela inteligência emocional, pela diplomacia, pela flexibilidade, pelo poder de abstração. Com o tempo vamos desaprendendo estes dons que nos eram praticamente inatos .
Afrodite
Já falei bastante desta deusa por aqui, mas agora vou frizar apenas o aspecto de amor sexual, que está banalizado nos nossos dias. As mulheres não tem mais tempo de se envolverem de verdade, pois não estão abertas para o amor. Por issso a queixa de estarem sempre sozinhas. Aquelas que já tem um amor muitas vezes não têm tempo de se dedicar a ele, relacham no autocuidado, provocando um desinteresse do companheiro, o que é natural. Garanto que muitas prefeririam ter um tempo maior para se arrumar, para se cuidar e estar sempre bela para o seu amor, ao invés de ficar ganhando rugas horas e horas num trabalho estressante. Infelizmente a sociedade está organizada para que só aquelas que nasceram em berço de ouro possam se dedicar a isso.
Héstia
É a deusa protetora do lar, é o fogo sagrado que está no interior de toda a casa e no íntimo de cada ser. Na mitologia romana era chamada de Vesta, de onde surgiu a palavra vestíbulo, que significa " local para o resguardo". Coisa sem ssignificado nos dias de hoje, pois não respeitamos mais a nossa privacidade. Hoje em dia muitas pessoas não conseguem ficar sozinhas consigo mesmas, e muitas vezes fazem o máximo para ficar fora de casa, pois não sabem o que fazer dentro dela. Na antigüidade não era assim. Héstia era representada pela lareira acesa no centro da casa, unindo todos que ali moram (hoje em dia substituída pela televisão...). Resgatar esta deusa dentro da mulher significa então o direito de respeitar-se como ela realmente é, e também significa deixar acesa a " chama do lar", ser aquela que faz de tudo para dar ao lar o verdadeiro sentido, que é o de um local para sermos nós mesmos.
Obras de arte neste post:
* Jeune femme denudée sur canape (mulher jovem nua sobre o sofá) - Guillaume Seignac
* Les saisons (as estações do ano) - Alphonse Mucha
É fato que, com a idade, passamos a ficar mais seletivos. Isso deve valer para homens e mulheres. Talvez seja a consciência de que nosso tempo é precioso. Abraços e sucesso com o blog!
ResponderExcluirParabéns pelo blog!!!
ResponderExcluirMuito bem escrito!!! Adorei
Bela pesquisa, adoro a história dessas mulheres que fizeram uma forte imagem no tempo!
ResponderExcluirTexto divino e muito bem escrito. Adorei!
ResponderExcluirCom o passar dos anos nos tornamos mais sábios... ou não rsrsrrsrsrs.
ResponderExcluirFases e fases, não é moça?
ResponderExcluirEu me preparo pra entrar na era dos 20 rsrs mas realmente, é como seu post disse, certas coisas, não só físicas, mas em termos de comportamento mudam.
Gostei o modo como expressou isso, usando mitologia grega(ooohhh) rs
bjitos
http://www.pequenosdeleites.blogspot.com
Paty
ResponderExcluirParabéns pelo post!
Ele traduz perfeitamente o que seu blog inspira: o resgate da mulher feminina, do cuidado consigo e com o outro, das nossas raízes, da fecundidade e do amor.
Ontem lendo Pablo Neruda, encontrei este poema:
A Noite na Ilha
Dormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha.
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.
Talvez bem tarde nossos
sonos se uniram na altura e no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento move,
embaixo como raízes vermelhas que se tocam.
Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro
me procurava como antes, quando nem existias,
quando sem te enxergar naveguei a teu lado
e teus olhos buscavam o que agora - pão,
vinho, amor e cólera - te dou, cheias as mãos,
porque tu és a taça que só esperava
os dons da minha vida.
Dormi junto contigo a noite inteira,
enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos,
de repente desperto e no meio da sombra meu braço
rodeava tua cintura.
Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos.
Dormi contigo, amor, despertei, e tua boca
saída de teu sono me deu o sabor da terra,
de água-marinha, de algas, de tua íntima vida,
e recebi teu beijo molhado pela aurora
como se me chegasse do mar que nos rodeia.
Coloquei-o aqui pois tem a ver tanto com o amor, quanto com esta ilha maravilhosa!
Felicidades, Raquel
Ah, concordo com a descrição da crise, ou sintoma social, pelo qual nós, mulheres estamos passando.
ResponderExcluirAs obras de Lya Luft e Clarice Lispector descrevem bem este cenário do feminino...
Não sou contra a mulher trabalhae, mas temos que intender que a mulher, além do trabalho, tem que cuidar da casa, e muito mais. A mulher deveria trabalhar meio periodo, asim teria tempo pra tudo!
ResponderExcluirQuerida amiga avassaladora...
ResponderExcluirDe fato, maturidade afeta o imaginario feminino de forma mais ofensiva que ao homem... São muitos atravessamentos culturais.
Talvez um pouco de relaxamento ajude a se desprender de uma passado e viver mais o presente com o que pode e tem de opções a frente.
Parabens pelo blog!
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