sábado, 9 de janeiro de 2010

La Bohème

Quero continuar falando de boemia neste post, desta vez para lembrar da famosa ópera em quatro atos do italiano Giacomo Puccini, a qual, como falei ontem, foi baseada no livro de Henri Murger, Scènes de la vie de bohème.
Até a época em que Puccini compôs La Bohème, quase todos os personagens de ópera tinham sido reis, príncipes, nobres, guerreiros, deuses ou heróis da mitologia grega. Os personagens de La Bohème são intelectuais proletários que não têm dinheiro nem para pagar o aluguel, e a protagonista Mimi morre de tuberculose. Antes do sucesso, o próprio Puccini conheceu grande pobreza. A vida boêmia que Puccini vivia na época também era muito semelhante à dos personagens de La Bohème. A humanidade de seus personagens e a partitura de Puccini tornam La Bohème uma das óperas mais famosas do compositor.
Deixei aqui duas árias da ópera nas versões que maais gosto: (1) Che gelida manina com Luciano Pavarotti e (2) Quando m´en vo com Anna Moffo. A primeira é da cena em que o personagem Rodolfo conhece Mimi. A ação se desenvolve em Paris por volta do ano de 1830 no sótão que Rodolfo (poeta) divide com o amigo Marcelo (pintor).

A jovem Mimí bate na porta para pedir ajuda pois o vento havia apagado a luz de sua vela. Rodolfo abre, fica fulgurado pela beleza de Mimí e a convida a entrar para aquecer-se perto do fogo. A jovem, seriamente doente, sufocada por um acesso de tosse, quase desmaia e Rodolfo se dispõe a socorrê-la. Ficando melhor, Mimí agradece e sai, mas volta logo depois porque havia esquecido as chaves no sótão de Rodolfo. Um golpe de vento apaga as velas de Mimì e de Rodolfo, que ficam no escuro. Rodolfo encontra logo as chaves mas instintivamente as coloca no bolso. Continuando a buscar no chão, suas mãos se tocam. E Rodolfo explode de amor! Uma das partes que mais gosto é quando ele descreve o que faz da vida, que é um poeta, que vive de escrever e viver, e que apesar de sua pobreza, sente-se como um rei, pois tem a alma milionária. Enfim, descrevendo a essência do sentimento boêmio!

A outra cena que coloquei é quando uma outra personagem, Musetta, tenta fazer ciúmes ao seu amado Marcello, e a letra é muito divertida, me identifiquei com ela, quando nos produzimos todas para o nosso amor que nos desdenha, e acabamos vendo-o ficar de queixo caído.

Deixo a letra de ambas com as respectivas traduções.



Che Gelida Manina (Que Mãozinha Gelada)

Che gelida manina,se la lasci riscaldar.
Que mãozinha gelada, se me deixas aquecê-la
Cercar che giova, al buio non si trova.
o que você procura, no escuro não se encontra
Ma per fortuna è una notte di luna, e qui la lunal'abbiamo vicina.
Mas por sorte é uma noite de lua, e aqui a lua, a temos bem próxima.
Aspetti signorina, le dirò con due parole
Espere moça, te direi com duas palavras,
chi son, chi son e che faccio,come vivo. Vuole?
quem sou, quem sou e o que faço, como vivo. Você quer?
Chi son?Sono um poeta. Che cosa faccio? Scrivo. E come vivo? Vivo.
Quem sou? Sou um poeta. O que faço? Escrevo. E como vivo? Vivo.
In povertà mia lieta,scialo da gran signore,
Na minha despreocupada pobreza, vivo como um grande senhor,
rime ed inni d'amore per sogni e per chimere e per castelli in aria ...L'anima ho milionaria!
rimas e hinos de amor, para sonhos e quimeras e para castelos no ar ... Tenho a alma milionaria!
Talor dal mio forziere ruban tutti i gioelli due ladri ...Gli occhi belli.
Talvez deste meu cofre roubem todas as jóias. Dois ladrões ... os olhos belos.
V'entrar com voi pur ora, ed i miei sogni usati e i bei sogni miei tosto si dileguar.
Entram com você também agora, e os meus sonhos de costume e os meus belos sonhos logo vão se dissipar.
Ma il furto non m'accora, poichè,poichè v'ha preso stanza la speranza.
Mas o roubo não me apavora, porque, porque nasceu a esperança.
Or che mi conoscete,parlate voi.Deh! Parlate!Chi siete, vi piaccia dir!
Agora que me conheces, fale você. Fale! Quem você é, gostaria de dizer?

Quando m´en vo (Quando me vou)

Quando men vo, quando men vo soletta per la via, la gente sosta e mira.
Quando me vou, me vou sozinha pela rua, as pessoas param e me olham.
E la bellezza mia tutta ricerca in me,Ricerca in me da capo a pie.
E toda a minha beleza a procuram da cabeça aos pés.
Ed assaporo allor la bramosia sottil,Che da gl'occhi traspira.

E então eu provo o sutil desejo, que transpira dos seus olhos.
E dai palesi vezzi intender sa alle occulte beltà.
E podem ver belezas ocultas por trás dos encantos que aparecem
Cosi l'effluvio del desio Tutta ma'ggira.Felice mi fa!Felice mi fa!
E assim o suspiro do desejo rodopia ao meu redor, me faz feliz, me faz feliz!
E tu che sai, che memori e ti struggi , da me tanto rifuggi?

E tu que sabes, recordas e resistes, tanto foges de mim?
So ben: le angoscie tue non le vuoi dir,Non le vuoi dir,So ben ma ti senti morir!
Sei bem, as tuas angústias não queres contar, não queres, eu sei bem, mas te sentes morrer!

7 comentários:

  1. Olá!
    Muito lindo, leve e interessante seu blog.
    Vou recomendar a vários amigos meus que apreciam todos os assuntos que vem sendo tratados.
    Ópera me agrada muito! Vou ver com mais calma os vídeos que você postou.
    Tudo de bom!

    Abraços

    ResponderExcluir
  2. Deve ser bom. Um dia eu gosto.

    ResponderExcluir
  3. Não li todo o post, mas até onde eu li achei bem interessante. Adorei os quadros!

    www.teoria-do-playmobil.blogspot.com

    ResponderExcluir
  4. é um tema muito pouco falado e muito complexo.Você gosta mesmo deste tipo de arte boemica(não sei se esse filme existe)

    ResponderExcluir
  5. Mimi is one of my favorite operas. I wish I had seen it with Pavarotti – such a voice he had.

    ResponderExcluir
  6. Eu simplesmente amoooooooooo essa ópera... é a coisa mais linda... lembra a minha infancia...rs
    bjoo

    ResponderExcluir